COMO (O) SER HUMANO É – Jon Menezes
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COMO (O) SER HUMANO É

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É bom ser humano. E essa é a nossa vocação, por assim dizer, espiritual: a de nos tornar mais e mais humanos, como foi Jesus Cristo, assemelhando-nos com ele tanto em sua vida quanto em sua morte.

 

No título acima estão implícitas, ao menos, duas formas de referência ao ser humano.

A primeira eu denomino de forma irônico-resignada. Como quem diz em tom negativo ou de reprovação: “Está vendo como o ser humano é!”. Pode assumir também o tom desesperado ou resignado, como se o projeto humano, por assim dizer, fosse um projeto falido. “O ser humano não tem jeito mesmo”; é um projeto que “deu errado”. Eis a face do desespero: a sensação de que o amanhã será apenas uma repetição do que temos para hoje.

Mas há também uma segunda forma, que aparece se extrairmos a preposição "o" do meio da frase. Ao invés de julgamento ou denúncia, a frase pode, assim, assumir tanto a forma de uma pergunta quanto de uma proposição prática: como ser humano é (?). Essa segunda forma eu denomino de criativo-esperançosa. Se, por um lado, ela não exclui a realidade, o que temos para hoje, o estado de coisas (por vezes caótico e tenebroso) provocado pelas ações (premeditadas ou não) de seres humanos no mundo, por outro, deixa aberta a possibilidade de um “também aquilo” associado a todo “isso”. Ou seja, o ser humano pode ser “isso” - uma imagem falida, uma representação distorcida de si mesmo, o prenúncio de uma autodestruição -, e “também aquilo”, uma versão melhor, a realização de sua potência para o bem, pulsão de vida e não de morte (para falar em termos freudianos).

Acredito que essa segunda forma foi aquela apresentada por Jesus. João (2.25) afirma que ninguém precisava ensinar o bê-á-bá da humanidade para Jesus, pois ele conhecia a natureza humana. Afinal, não custa lembrar, ele era humano - e nos evangelhos sinóticos se referiu a si mesmo, preferencialmente, como “filho do homem”, que basicamente significa “o humano”. Pense no que isso implica. Jesus de Nazaré, quase sempre que ia fazer uma autorreferência, costumava dizer “o humano isso” e/ou “o humano aquilo”. Embora conhecesse a natureza humana - ao ponto de desconfiar das intenções de algumas pessoas, como no contexto narrado por João - ele persistiu sendo humano e escolhendo a humanidade. Por quê?

Acredito que é porque ele veio como humano, e permaneceu humano, para que a humanidade pudesse de novo olhar no espelho (sobretudo ao outro) e ver a declaração original do Criador: “E Deus viu que tudo o que havia feito era muito bom” (Gn 1. 31). Incluindo, é claro, o ser humano. É bom ser humano. E essa é a nossa vocação, por assim dizer, espiritual: a de nos tornar mais e mais humanos, como foi Jesus Cristo, assemelhando-nos com ele tanto em sua vida quanto em sua morte, como disse Paulo, com a esperança de que nós mesmos sejamos ressuscitados da morte para a vida (cf. Fp 3.11). Essa é também a vocação da Igreja do Caminho – ouso dizer eu, como um de seus membros fundadores e atual pastor. Que nossa caminhada possa confirmar, dia após dia, que temos sido dignos dessa vocação, pela Graça de Jesus Cristo.


 

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