Let my gardens speak for me when I am gone (Que meus jardins falem por mim quando eu me for)
Let them speak in colored whispers of all the beauty I have seen and felt, and lived (Que eles falem em sussurros coloridos de toda a beleza que vi, senti e vivi)
Let them speak of how much death had to find me; how many hard seasons it took to make me a living, breathing thing (Que eles falem do quanto a morte teve que me encontrar; de quantas estações foram necessárias para me fazer um ser que vive e respira)
Let them speak of my seasons of growth and abundance but let them also tell of my seasons of loss and decay (Que falem de minhas estações de crescimento e abundância, mas que também falem de minhas estações de perda e decadência)
Let the soft, wet earth be a reminder of hardness that didn't win. Of sadness that didn't calcify. Of surrender that triumphed over resistance (Que a terra macia e úmida seja um lembrete da dureza que não venceu. Da tristeza que não se calcificou. Da rendição que triunfou sobre a resistência)
And let the glorious, fragrant blooms speak of my life and its greatest lesson: that the beauty we make never dies (E que as flores gloriosas e perfumadas falem de minha vida e de sua maior lição: que a beleza que criamos nunca morre)
Come sit by my garden (Venha e sente em meu jardim).*
Quando a poesia parece falar não apenas dentro, mas na gente e até mesmo pela gente, resta muito pouco a dizer. Senão um “obrigado” por ser minha voz, mesmo sem esse compromisso de abrangência ou mesmo sem consciência de sua abrangência ou alcance.
É isso o que a poesia de Emory Hall, chamada “Come and Sit By My Garden”, de seu fabuloso livro “Made of Rivers” (2024), causa em mim neste momento: identificação. E me lembra de uma série de coisas preciosas, que ouso registrar aqui, visto que quero carregar comigo especialmente agora, entre elas:
Que a vida, a existência ou o ser próprio de cada pessoa é como um jardim, eventualmente regado por outras pessoas, mas, sobretudo, por si ao longo dos dias. Que não é tanto o que falamos sobre, mas o que o nosso jardim fala por nós, que conta do começo ao fim. Por mais que tentemos adorná-lo com ilusões a nosso respeito, mais hora menos hora, os frutos dirão melhor sobre nosso tipo de jardim. Ninguém é o seu perfil numa rede social qualquer.
Que as cores de meu jardim são um mix de tons distintos; uns alegres e vivos, outros nublados e tristes (para lembrar outra poesia, de Stenio Marcius). Ou seja, que a dureza da vida não é ou não precisa ser inimiga da beleza, e vice-versa. O corpo não deixa de ser bonito porque tem imperfeições, bem como a alma não deixa de ser alegre e bela porque tem cicatrizes. Sua beleza, na verdade, reside precisamente em sua vulnerabilidade.
Sua história é feita, portanto, de crescimento e abundância, sim, porque também experimentou e suportou perda e decadência. Parece-se com a espiritualidade de Jesus, que suportou as contradições da humanidade sem deixar de amá-la profundamente.
Que a beleza que a gente cria – não uma beleza copiada, que não é própria, mas a beleza que vem do solo úmido da vida de cada pessoa – é imperecível. A se considerar o tom visceral da poesia toda, não é possível pensar nessa frase em tons triunfalistas ou meramente otimistas.
Pois beleza e alegria não se criam sem dureza e tristeza. Criam-se, assim, da realidade presente para a eternidade.
Quer conhecer a verdadeira beleza que eu crio? Fica, então, para quem respeita minha singularidade e sacralidade, o convite final da poesia: “Venha e sente em meu jardim”.
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Referências
*Emory Hall. Made of Rivers. Hay House UK, 2024.